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Sacrifícios Humanos, por María Fernanda Ampuero – Contos de terror real e denúncia social.

Ler Sacrifícios Humanos é como caminhar por um campo minado onde cada passo explode uma verdade brutal que insistimos em ignorar. Escrito pela equatoriana María Fernanda Ampuero, este livro é um soco no estômago. Um grito literário contra os horrores normalizados do cotidiano. Uma sequência de contos de terror social que, longe de explorar monstros míticos, nos apresenta os verdadeiros: os humanos.


Capa do livro Sacrifícios Humanos, de María Fernanda Ampuero, com arte vermelha de figura feminina em gesto de desespero, simbolizando dor, violência e resistência.

Nesta coletânea, Ampuero escancara o sofrimento das mulheres, dos pobres, dos marginalizados — e não há espaço para respiros ou eufemismos. A violência aqui é cotidiana, íntima, doméstica. Ela acontece entre quatro paredes, no silêncio cúmplice das instituições, na negligência das autoridades, no moralismo hipócrita de sociedades colonizadas, patriarcais e cristãs.

Sacrifícios Humanos é uma leitura intensa, repleta de gatilhos emocionais. Para alguns, será impossível ler os contos em sequência sem precisar pausar para recuperar o fôlego. Para outros, talvez seja melhor devorá-los de uma vez só, como um exorcismo necessário. De qualquer forma, trata-se de uma experiência literária transformadora — e, paradoxalmente, impossível de esquecer.

O que impressiona na escrita de Ampuero é sua coragem. Não há qualquer tentativa de amenizar a dor. Ao contrário, ela a expõe em carne viva. Suas personagens são mulheres destroçadas, crianças marcadas, corpos colonizados, imigrantes esquecidas. E ainda assim, há resistência. A literatura aqui não é consolo — é denúncia, é revolta, é uma tentativa de devolver nome, rosto e voz às vítimas.

A seguir, um breve panorama dos contos que compõem a obra:

1.     Biografia – Uma imigrante ilegal, desempregada e faminta se submete às perversões de um homem rico. “Mulheres desesperadas são a carne da moenda. Nós, imigrantes, além disso, somos os ossos que trituram para que os animais comam.” Um conto sufocante, de horror econômico e sexual.

2.     Crentes – A infância e a fé violadas. Uma menina passa férias na casa da avó e presencia a chegada de dois "anjos brancos", que se revelam predadores cristãos. A denúncia da pedofilia travestida de santidade.

3.     Assobio – Um terror que transita entre o folclore e o trauma herdado. A história daquele que assobia, passada de mãe para filha, mostra como o medo pode ser uma herança.

4.     Escolhidas – Uma crítica feroz à ditadura da beleza, ao culto do corpo e à necropolítica do feminino. Uma orgia de poder, plásticas e sacrifício.

5.     Irmãzinha – Um retrato perturbador da bulimia, anorexia, abandono e autoaceitação. Elementos de horror corporal e sobrenatural se misturam nesse conto dolorosamente íntimo.

6.     Sanguessugas – Julito é um menino estranho que cria vermes parasitas. Um conto que mistura o grotesco com a crueldade da exclusão infantil.

7.     Invasões – A busca desesperada por moradia se transforma em caos. Um conto sobre desigualdade, racismo, ódio de classe e violência urbana.

8.     Piedade – Uma empregada que criou o filho da patroa com amor que faltou ao próprio. Um conto cruel sobre classe, servidão e ressentimento.

9.     Sacrifícios – Uma mulher traída, o inferno de uma relação abusiva, e um final que beira o sobrenatural — tudo se passa no estacionamento de um shopping, lugar simbólico da estética neoliberal do vazio.

10.  Edith – Enquanto uma mulher narra encontros com seu amante, o pai de suas filhas as violenta em casa. Um dos contos mais difíceis de digerir, onde o silêncio é tão violento quanto o ato.

11.  Lorena – Violência doméstica, alcoolismo, relações adoecidas. Lorena resiste enquanto desmorona.

12.  Freak – Bullying escolar, abusos, invisibilidade. Um adolescente marginalizado caminha para o suicídio como única saída. Uma denúncia ao descaso com as infâncias desviantes.

Ampuero não escreve para agradar. Ela escreve para incomodar, para escancarar o horror que fingimos não ver, para desenterrar os cadáveres que escondemos sob o tapete da "normalidade". Sua literatura é indigesta porque o mundo é indigesto. E se você sentir repulsa, dor, raiva — parabéns, você está vivo. E isso é o mínimo.

Se você tem interesse em conhecer esta obra impactante, tenho o PDF. Basta se inscrever no meu blog pedrosucupira.com e entrar em contato comigo. Ficarei feliz em compartilhar.

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Se você chegou até aqui, muito obrigado pela companhia. Meu nome é Pedro Sucupira, sou professor, pesquisador em formação e um curioso incansável. Amo estudar, ler e, recentemente, descobri o prazer inescapável da escrita. Sou um explorador apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e por tudo que toca os campos da ciência e da saúde.

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