Frida Kahlo e as Cores da Vida, Caroline Bernard.
- Pedro Sucupira
- 11 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mai.

Frida Kahlo e as Cores da Vida é uma ficção biográfica que reimagina a vida de uma das artistas mais marcantes do século XX com vigor narrativo e lirismo acessível. A escritora alemã Caroline Bernard parte dos acontecimentos reais da trajetória de Frida Kahlo para construir um romance que pulsa com intensidade emocional, e que consegue traduzir, com relativa fidelidade, a força, a dor e a ousadia de sua protagonista.
O livro percorre os episódios centrais da vida de Frida: o acidente que a deixou com sequelas por toda a vida, sua relação conflituosa com o próprio corpo, o desejo inicial de ser médica, a descoberta da pintura, sua adesão ao partido comunista, os embates amorosos e políticos com Diego Rivera, suas exposições ao redor do mundo e o impacto que sua figura causou, e ainda causa, na arte e na cultura. Todos esses elementos são recontados em um tom que equilibra o drama e a leveza, ainda que, por vezes, opte por caminhos mais romantizados.
Para os leitores já familiarizados com a biografia de Frida, é possível que a narrativa soe, em alguns momentos, previsível ou até simplificada. Mas é exatamente aí que entra a proposta do romance histórico: não se trata de biografia documental, mas de uma recriação literária. Bernard utiliza a liberdade da ficção para preencher lacunas emocionais e explorar os pensamentos e diálogos da artista, elementos que jamais poderíamos conhecer por completo, mas que aqui ganham forma em uma linguagem fluida e imaginativa.
É fundamental frisar: trata-se de uma obra de ficção inspirada em fatos reais. Muitos dos acontecimentos descritos, embora historicamente verídicos, são entremeados por trechos inventados, especialmente os monólogos internos e os diálogos. No entanto, o que merece destaque é o notável trabalho de pesquisa empreendido por Caroline Bernard. A leitura revela uma autora que mergulhou na vida, na cultura e na arte de Frida Kahlo com dedicação e sensibilidade, sem reduzir sua complexidade a clichês ou caricaturas.
Como leitor e admirador profundo da figura de Frida, apreciei reler sua trajetória por meio dessa abordagem romanceada. A linguagem direta e acessível torna o livro ideal para quem deseja um primeiro contato com sua história, especialmente jovens leitores, ou leitores não acostumados com biografias mais densas. O texto convida à curiosidade e, muitas vezes, nos instiga a recorrer ao Google para buscar imagens das pinturas mencionadas, dos lugares, dos vestidos coloridos, das expressões carregadas nos autorretratos. Nesse sentido, a obra cumpre uma função quase pedagógica: introduz, aproxima, desperta.

Outro ponto enriquecedor é a presença constante da cultura mexicana, que transborda nas cores, nos rituais, nas comidas, na religiosidade popular, nos conflitos políticos e na musicalidade cotidiana. Quem não estiver familiarizado com esses elementos pode se ver motivado a aprofundar seu repertório cultural, o que, por si só, já é um mérito do livro.
Contudo, é preciso ser honesto: a linguagem em certos momentos se aproxima de um tom excessivamente simplificado, até mesmo piegas. Como alguém que conhece bem a vida trágica e multifacetada de Frida, senti falta de mais densidade psicológica em determinadas passagens. O sofrimento de Frida, sua rebeldia estética, sua intensidade política e sexual, sua solidão, sua dor crônica, tudo isso merece uma prosa à altura. E, em alguns momentos, senti que a narrativa se acanhava diante da própria personagem.
É possível que esse tom mais leve seja consequência de uma escolha editorial, talvez pensando em atingir um público amplo, ou, quem sabe, efeito do processo de tradução do alemão para o português, algo que sempre carrega perdas e reformulações. Como leitores, corremos esse risco ao não acessar o texto original. Mas isso não invalida a leitura. Pelo contrário: apenas nos lembra que cada livro é também um encontro entre línguas, culturas e perspectivas.
No fim das contas, Frida Kahlo e as Cores da Vida é um livro que não pretende ser definitivo, mas consegue ser instigante, belo e respeitoso. Caroline Bernard não tenta explicar Frida — e talvez ninguém jamais consiga, mas oferece ao leitor uma porta de entrada sensível para o universo de uma mulher que ousou viver e pintar com a alma exposta.
Seja você um fã antigo ou um curioso de primeira viagem, esta leitura certamente deixará marcas.
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Se você chegou até aqui, muito obrigado pela companhia. Meu nome é Pedro Sucupira, sou professor, pesquisador em formação e um curioso incansável. Amo estudar, ler e, recentemente, descobri o prazer inescapável da escrita. Sou um explorador apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e por tudo que toca os campos da ciência e da saúde.
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