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ANSEIOS DE MORTE

Atualizado: 29 de mai.

Quando o rico se mata, celebramos.

Dizemos — menos um.

Ao pobre é proibido pensar em suicídio,

pois a morte o ronda todos os dias,

em vielas, calçadas, corredores de hospital.

 

Deixemos o suicídio aos que muito têm e pouco distribuem.

Aos que, por existirem, demandam a exploração de milhares.

Aos cujos caprichos custam a dor de quem jamais será de suas estirpes.

Que morram os abastados ressentidos —

ressentidos por serem tão exclusivos.

 

A morte é anseio de todos.

Mas para os pobres, ela vem aos montes,

em pedaços inesperados:

num tiro, num turno dobrado, numa falta de ar.

Para os ricos, ela vem frugal —

bocadas elegantes, auto deliberadas.

 

Há suicídios que beneficiam os muitos,

há mortes que agradam à terra,

há fins que são como respiros coletivos.

 

Torcemos para que os anseios de morte os visitem.

Que os assombrem na hora mais escura.

Que o crepúsculo lhes pese nos ombros.

Que a tristeza os convença,

que o muito lhes pareça um grande vazio.

 

E que tenham coragem.

Coragem para consumarem seus próprios anseios.

Anseios de morte.

 

Que romantizem a própria extinção

como romantizam a fome,

a dor,

o sofrimento alheio.

 

Que seus anseios sejam elevados em coragem,

espartanos no agir diante da morte,

alienados diante da finitude.

 

Faremos crer que serão mártires,

vultos heróicos de uma causa imaginária.

E quando, após três dias,

permanecerem ausentes,

sem glória,

sem ressurreição —

celebraremos.

 

Celebramos a inexistência.

A ausência que não deixa falta.

 

Desejosos, ansiaremos pelo anseio alheio.

E em grande clamor,

torceremos,

aplaudiremos

o anseio de morte dos ricos.


Cemitério antigo com túmulos de pedra cobertos por névoa matinal, iluminados por feixes de luz solar entre árvores ao fundo, em atmosfera melancólica e silenciosa.

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Se você chegou até aqui, muito obrigado pela companhia. Meu nome é Pedro Sucupira, sou professor, pesquisador em formação e um curioso incansável. Amo estudar, ler e, recentemente, descobri o prazer inescapável da escrita. Sou um explorador apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e por tudo que toca os campos da ciência e da saúde.

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Fonte foto de capa unsplash.com

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