O Olho Mais Azul, Toni Morrison
- Pedro Sucupira
- 18 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de ago. de 2022
O Olho mais azul é uma daquelas obras que faz você desejar que todos os seus amigos e conhecidos tenham contato; sintam o mesmo que você sentiu. Você só pensa em falar sobre ela e nada mais. Quando terminei a leitura procurei amigos que já tinham lido para podermos discutir, debater e exaltar um dos livros mais impactantes que já li. Entrou para minha lista de favoritos.
Publicado em 1970, O Olho mais azul foi escrito entre 1965-69 por Toni Morrison, a primeira escritora negra a receber o Nobel de Literatura. A história se passa na década de 1940, porém é como se estivéssemos lendo um relato de 2021. Não importa o ano, esse livro se encaixará perfeitamente a qualquer momento conferindo uma das características mais marcantes das obras de Morrison, a atemporalidade.
A protagonista, Pecola Breedlove, é uma criança negligenciada, agredida e abusada física e psicologicamente pelos adultos, incluindo os pais, e por outras crianças por conta da cor muito escura de sua pele e do cabelo muito crespo. A vida muito maltratada leva Pecola a acreditar que ter os olhos azuis como as mulheres brancas lhe trará a paz que ela tanto anseia.
Esse é um dos romances mais tristes que já li. O caso extremo que é a vida de Pecola, uma criança negra totalmente devastada, gera em nós um sentimento extremo de compaixão. De início é comum o leitor ser induzido ao consolo de sentir pena por Pecola, mas com o discorrer da leitura cada capítulo nos instiga a questionar, refletir sobre os temas abordados. Impossível ler O Olho mais azul e ao final não questionarmos os padrões de beleza imposta às jovens, o racismo estrutural e mais intensamente o lugar que a mulher negra ocupa na escala social, o mais baixo de todos.
O Olho mais azul é um livro intenso, fácil e rápido de ler, mesmo abordando de forma tão profunda temas como raça, gênero e classe social. Não deve ser julgado relevante somente devido às questões sociais sobre as quais disserta, reduzido apenas à esfera política, mas deve e muito ser também valorizado por causa de sua estética. A forma como Toni Morrison introduz cada personagem na trama é simplesmente surreal. Em poucas páginas Morrison consegue fazer o leitor compreender e se simpatizar com a história de vida de qualquer personagem antes de nos mostrar o porquê aquele personagem foi incluído ali.
Com uma linguagem clara e objetiva, em momento algum eu me senti entediado ou com a sensação de que a leitura era arrastada. Nada presente nessa obra pode ser considerado irrelevante; cada parágrafo, cada capítulo, cada frase é essencial e ocupa perfeitamente seu lugar na trama.

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Para quem chegou até aqui, eu me chamo Pedro Sucupira e sou um professor pesquisador em formação e curioso de um tanto que você não faz ideia. Amo estudar, não é atoa que não aguentei somente fazer o doutorado e já ingressei no curso de filosofia. Sou um descobridor, apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e tudo o que envolve ciência.
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