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Devassos no Paraíso – A Homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade, por João Silvério Trevisan.

Atualizado: há 6 dias

Poucos livros me atravessaram de forma tão profunda quanto Devassos no Paraíso. Escrito por João Silvério Trevisan, um dos mais importantes intelectuais brasileiros do movimento LGBTQIAPN+, esta obra é uma verdadeira arqueologia da sexualidade dissidente em nosso país. É história, denúncia, manifesto e, sobretudo, sobrevivência.


Capa do livro "Devassos no Paraíso", de João Silvério Trevisan. A imagem mostra a 4ª edição, revista e ampliada, com o título em letras grandes e coloridas com as cores do arco-íris, simbolizando o orgulho LGBTQIA+. A ilustração da capa exibe personagens diversos e caricatos, representando figuras históricas da comunidade LGBT brasileira, incluindo uma drag queen, um policial e outros personagens em trajes coloridos, sugerindo uma cena de celebração e diversidade. O fundo é branco e o livro está levemente inclinado sobre uma superfície clara.

Mais do que um levantamento de fatos e figuras, Devassos é um inventário das dores, resistências e contradições que compõem a história das sexualidades dissidentes no Brasil. O termo sexualidade dissidente refere-se aqui às formas de viver o desejo, o corpo e o afeto que escapam ou desafiam a norma heterossexual e cisgênera. Em outras palavras, são modos de existência que não se encaixam nos padrões impostos por uma sociedade patriarcal, moralista e excludente. Não se trata apenas de "ser diferente", mas de reivindicar o direito de ser plenamente humano num mundo que tenta silenciar tudo o que não compreende.

Publicado originalmente em 1986 e constantemente reeditado e ampliado desde então, Devassos no Paraíso não é apenas um livro, é um documento essencial para compreender a trajetória da homossexualidade no Brasil, desde os tempos coloniais até os embates contemporâneos. Com rigor jornalístico, erudição e coragem, Trevisan percorre séculos de repressão, resistência, hipocrisia e desejo. Ele nos conduz por processos inquisitoriais, carnavais, prostíbulos, becos e catedrais, resgatando figuras históricas, anônimos corajosos, mártires e libertários.

Este é um livro que todo LGBTQIAPN+ deveria ler pelo menos uma vez na vida. Não apenas pela riqueza das informações — e são muitas, minuciosas, por vezes brutais —, mas porque ele nos devolve algo que o sistema tenta nos arrancar diariamente: uma narrativa. Nossa narrativa. Trevisan nos lembra que sempre estivemos aqui, que somos parte da história do Brasil e que nossa existência é, em si, uma forma de resistência.

Mais do que um compêndio histórico, Devassos no Paraíso é uma ferramenta de formação política. Em tempos nos quais discursos de ódio voltam a ganhar espaço, o livro oferece não só contexto, mas também coragem. Lê-lo é se ver em um espelho que atravessa séculos. É compreender que o preconceito não é novo, mas que tampouco é invencível. E que a militância começa, e recomeça, todos os dias, nos corpos que resistem, nos afetos que florescem, nas vozes que não se calam.

Trevisan nos provoca a refletir sobre o papel que desempenhamos como sujeitos políticos em uma sociedade historicamente LGBTfóbica, racista, machista, capacitista e classista. Ele também nos apresenta uma galeria de figuras inspiradoras, artistas, ativistas, mártires, personagens históricos e anônimos, que nos impulsionam a seguir em frente.

“Se existe a escuridão opressiva ao nosso redor, nossa função é brilhar”, escreve o autor. “Exatamente como os vaga-lumes, que só brilham se houver escuridão, e são tanto mais vaga-lumes quanto mais escuro estiver o entorno.”

Se você faz parte da comunidade LGBTQIAPN+ ou quer entender mais sobre os alicerces da luta por direitos e dignidade neste país — um país que nos silenciou, mas que nunca nos apagou — este livro é para você. Devassos no Paraíso é um grito. Um memorial. Um farol.

“We’re here. We’re queer. Get used to it.”

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Se você chegou até aqui, muito obrigado pela companhia. Meu nome é Pedro Sucupira, sou professor, pesquisador em formação e um curioso incansável. Amo estudar, ler e, recentemente, descobri o prazer inescapável da escrita. Sou um explorador apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e por tudo que toca os campos da ciência e da saúde.

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