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  • Pedro Sucupira

O que a bíblia realmente diz sobre a homossexualidade

Atualizado: 16 de out. de 2023

O que a bíblia realmente diz sobre a homossexualidade, por Daniel A. Helminiak.


De onde surgiu essa abominação contra a comunidade LGBTQIAP+? Por que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTs?


Um dos temas mais em voga no mundo business é a diversidade e inclusão. Se uma empresa abre as portas e contrata pessoas LGBTQIAP+ ela é considerada diversa e inclusiva.


Entretanto, infelizmente, essa “aceitação” tão apregoada nas redes sociais não condiz com a realidade. Ainda somos o país que mais mata pessoas LGBTs e os números de casos de discriminação dentro de empresas “diversas” e “inclusivas” não parecem diminuir.


Aparentemente, a militância de redes sociais se mantém somente no mundo virtual e acaba por criar em nós uma falsa sensação de boas perspectivas, mas o buraco continua sendo mais embaixo. A verdadeira realidade de quem é LGBTQIAP+ é totalmente diferente. E o mesmo pensamento vale para racismo, violência de gênero etc.


Muitas vezes a empresa pode até ter um posicionamento inclusivo, mas nem todo o seu corpo colaborativo reflete essa cultura e continua perpetuando preconceitos. Por exemplo, se eu, homem gay cisgênero, não me sinto a vontade de expressar abertamente a minha orientação sexual em determinado ambiente é porque alguma coisa não está certa.


E como mudar esse cenário?


Para que ações eficazes sejam realizadas é necessário buscarmos e entendermos a raiz do problema. Neste artigo, a partir de uma resenha sobre o livro homônimo de Daniel A. Helminiak, abordo sobre um dos pontos chaves para o surgimento dessa intolerância contra pessoas LGBTQIAP+, o pensamento religioso cristão.


Isso mesmo. Analisando historicamente, os movimentos cristãos ortodoxos e neopentecostais, baseados em uma interpretação literal das escrituras sagradas, tem se oposto ao movimento LGBTQIAP+ desde que o mundo é mundo. E, particularmente no Brasil, a famosa bancada evangélica presente em peso no congresso nacional é a que mais defende pautas LGBTfóbicas disfarçadas de discurso pró-“família”.


Nesse livro, Daniel nos apresenta a interpretação histórico-crítica como método para desconstruir e refutar ideias, narrativas e demagogias LGBTfóbicas equivocadas baseadas em interpretações literais e acríticas da bíblia.

O que a bíblia diz sobre a homossexualidade

Resenha


A bíblia é um livro cuja aplicabilidade é dependente do tipo de interpretação que o indivíduo faz uso. Esse é o primeiro, e a meu ver, o mais importante tópico desse livro, em que Daniel A. Helminiak, padre e doutor em Teologia e Psicologia, discute sobre duas formas distintas de interpretar a bíblia: a leitura histórico-crítica e a literal.


Daniel explica:

“A interpretação literal afirma entender o texto unicamente conforme o que ele diz. Essa é a abordagem fundamentalista. Ela afirma não interpretar o texto, mas simplesmente lê-lo como ele é. Essa interpretação é fácil, não requer diretrizes complicadas. Apela para o senso comum e não requer estudos detalhados. Uma vez que é desprovida de diretrizes mais elaboradas, pessoas diferentes podem ler o mesmo texto e chegar a conclusões diferentes. E cada uma dessas pessoas poderá afirmar que o significado do texto é aquele atribuído por ela. Ao final, acaba-se considerando que o texto significa aquilo que o grupo de pessoas concorde que ele signifique. A popularidade define o significado da bíblia. Um pregador influente pode chegar a impor sua opinião pessoal sobre uma congregação inteira. Além disso, a intepretação literal leva à utilização seletiva da bíblia. Isto é, essa abordagem tende a enfatizar um texto e relegar outro.”

Por outro lado, a interpretação histórico-crítico

“cujo método tem uma séria desvantagem: ele não é fácil. Requer estudos longos e difíceis. Esse método faz da interpretação da bíblia uma técnica científica. Arqueologia, história, línguas antigas, antropologia, análise minuciosa das palavras e textos são necessárias para uma interpretação adequada.” Apesar das dificuldades, o lado positivo dessa abordagem “é que ela pode determinar o significado de um texto de maneira objetiva, seguindo uma orientação clara. Quando surgem diferenças, elas não dependem da filiação católica ou protestante de quem quer que seja. As diferenças dependem exclusivamente das provas históricas citadas pelos estudiosos e dos argumentos propostos por eles.”

Após essa introdução, nos demais capítulos, o autor discorre sobre um dos temas mais tabus e marginalizados por cristãos, a homossexualidade. Baseado no método histórico-crítico de interpretação, usando diversos estudos históricos, achados historiográficos e teses científicas, Daniel destrincha e desconstrói interpretações de senso comum das poucas referências bíblicas utilizadas por fundamentalistas para justificar, sem aporte teórico-histórico nenhum, preconceitos, perseguição e intolerância contra a comunidade LGBTQIAP+. Aqui os famosos textos sobre Sodoma e Gomorra, do livro de Levítico, das cartas aos Romanos, aos Coríntios e à Timóteo são abordados e discutidos a fundo. Como o autor afirma “parece que as traduções da bíblia vêm se modificando conforme os preconceitos.”


Algumas conclusões do autor:

  • A abordagem histórico-crítica lê a bíblia em seu contexto histórico e cultural original. Esta abordagem considera o significado da bíblia, determinado da melhor forma possível, tal como sua própria época e à sua própria maneira. Compreendida em seus próprios termos, a bíblia não trata de nossas questões atuais sobre a ética sexual;

  • Não há um único texto da bíblia que faça uma referência clara sobre lésbicas, pessoas transgênero ou sobre temas como bissexualidade, assexualidade, pansexualidade, intersexualidade;

  • A bíblia não faz qualquer condenação generalizada contra a homossexualidade;

  • O pecado de Sodoma e Gomorra foi o da falta de hospitalidade, e não o da homossexualidade;

  • Sobre a carta aos Romanos, o mais extenso tratamento que a bíblia concede ao assunto, compreendido em seu contexto histórico, na realidade condena formas abusivas de sexo independente da orientação sexual.


E para encerrar, Daniel nos apresenta estudos que apontam relatos positivos sobre relacionamentos homoafetivos na bíblia. A polêmica relação entre Davi e Jônatas, Daniel e o eunuco-chefe de Nabucodonosor, Rute e Naomi, e o caso narrado nos evangelhos de Mateus e Lucas sobre a cura realizada por Jesus no servo do centurião, um possível casal homossexual.


Mesmo abordando sobre línguas antigas como grego e hebraico e teses complexas, o livro foi escrito para alcançar o máximo possível de pessoas. Com uma linguagem fácil, frases e parágrafos curtos e a cadência de ideias apresentada de forma coerente e coesa tudo isso contribuindo para tornar a leitura fluída e de fácil entendimento.


Esta obra com apenas 144 páginas publicada originalmente no Brasil em janeiro de 1998 continua pertinente. Não só recomendo a leitura como também a busca pelas diversas fontes que o autor nos sugere.


O fato de vivermos em um país em que o pensamento religioso cristão é tão predominante e desempenha um papel muito forte de influência desde a sua fundação até os dias de hoje, nos impele a estudar sobre o assunto com o intuito de nos prepararmos para confrontar falas fundamentalistas e preconceituosas vindas de “cristãos” e que se tornaram um senso comum.


Muitos membros da comunidade LGBTQIAP+, assim como eu, são oriundos de uma família cristã e se sentem coagidos por falas e afirmativas que com o passar do tempo, ditas repetidamente, nos machucam e nos causam um mal irreparável. Depois de ler e estudar este livro entrei em um processo de desconstrução de tudo o que foi incutido e assimilado por mim durante os meus vários anos como membro de uma igreja evangélica. Além disso, me vi com embasamento suficiente para refutar e não aceitar qualquer tipo de fala LGBTfóbica disfarçada de preceito cristão, e também contribuir para abrir a mente dos fundamentalistas da família.


Como diria um crente sensato, o que aprendemos aqui é que o uso da bíblia para condenar a comunidade LGBTQIAP+ é discurso de fundamentalistas que querem tirar o foco da verdadeira mensagem transmitida pela bíblia e por Jesus.


E você, o que acha sobre o assunto? Acredita que a religião tem sua parcela de culpa no que se trata de preconceitos? Você acredita que o pensamento cristão ajuda a perpetuar diferentes tipos de intolerâncias?


Referência

HELMINIAK, DANIEL A. O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade [Tradução Eduardo Teixeira Nunes]. 1º Edição – São Paulo: Summus, 1998. 144 páginas.


Fonte foto de capa pexel.com


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Para quem chegou até aqui, eu me chamo Pedro Sucupira e sou um professor pesquisador em formação e curioso de um tanto que você não faz ideia. Amo estudar, não é atoa que não aguentei somente fazer o doutorado e já ingressei no curso de filosofia. Sou um descobridor, apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e tudo o que envolve ciência.


Se você se interessou por esse artigo, aqui, no meu blog, você encontra mais textos meus (resenhas, contos e artigos). No Instagram você me encontra como @pedrosucupiraa. No Skoob como Pedro Sucupira, lá você pode acompanhar todos os livros que já li e tenho lido. No Lattes você consegue ver todos os artigos científicos que já publiquei.


E caso queria conversar comigo, compartilhar ideias, experiências e críticas, basta me chamar no pdrohfs@gmail.com.

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