A Coragem de ser Imperfeito, Brené Brown.
- Pedro Sucupira
- 3 de fev. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 2 de ago. de 2022
Nos últimos tempos criou-se uma aversão à livros de autoajuda ou de autoconhecimento que, sinceramente, eu não compreendo. Se é para se auto ajudar e se auto conhecer, como pode ser mau e chato? Mau e pedante é a sua resistência em identificar os seus problemas e traumas, que todo ser humano tem, e buscar tratá-los. Mesmo que você seja desses que condenam esse tipo de literatura, eu acho que vale a pena abrir uma exceção para esse livro que, além de ser escrito de forma clara, você irá compreender cada parte, cada frase, é o resultado de 12 anos de pesquisa.
Algumas partes, pois são muitas, que me marcaram:
“Nós gostamos de ver a vulnerabilidade e a verdade transparecerem nas outras pessoas, mas temos medo de deixar que as vejam em nós. Isso porque tememos que a nossa verdade não seja suficiente - que o que temos para oferecer não seja o bastante sem os artifícios e a maquiagem, sem uma edição pronta para exibição.”
“A alegria nos visita em momentos comuns. Não corra o risco de deixar a alegria passar despercebida mantendo-se ocupado demais perseguindo o extraordinário.”
“Eu não sou o que me acontece. Eu sou o que escolho me tornar.” Carl Gustav Jung
Essa resenha eu postei originalmente no meu Instagram o que gerou um debate leve e informativo com uma grande amiga, Bruna Ciprovac, psicóloga, que me apresentou uma perspectiva diferente sobre o tema. Aprendi mais um pouco e aqui gostaria de compartilhar com vocês nossa pequena conversa, que também pode ser lida lá no meu Instagram.
BRUNA Existem sim muitos livros de auto ajuda ótimos, mas a minha aversão com o gênero é que em muitos casos, esses livros não são baseados em evidência científica. Muitas vezes são anecdotal evidence (como fala isso em português? Haha) disfarçada de evidência científica, ou até evidência que veio das pesquisas do autor, mas que não foi publicada. Nada peer reviewed. Alguns desses livros contribuem pra imagem ruim de que a psicologia não é uma ciência, pq esses livros não são baseados em ciência - alguns apenas ideias dos autores que não foram testadas, algumas plausíveis, algumas até prejudiciais.
Acho que esses livros tem um papel importante de trazer conhecimento psicológico para as pessoas leigas, principalmente as que não tem condições de ir pra terapia. Mas tinha que existir um processo mais rigoroso pra verificar o que esses livros propõem.
Meu comentário não é sobre esse livro, não conheço! Como vc disse, esse é o resultado de 12 anos de pesquisa, então realmente deve ser bom.
PEDRO Hi my friend. Nossa, eu fico super lisonjeado por vc, uma Ph.D. em psicologia, comentar meu post, hehehe. Então, eu nunca pensei por esse lado da
/desvalorização da psicologia como ciência e eu só tenho que concordar. Faz todo o sentido. Realmente, tem muito lixo por ai, mas é aquela coisa, neh, voltamos ao cerne do problema e que afeta tudo na vida do ser humano, desde suas escolhas literárias até as políticas, a falta de senso crítico. Cabe a cada um ter um senso crítico apurado para poder selecionar fontes confiáveis. Esse livro em particular me chamou a atenção pela enorme quantidade de dados qualitativos que ela apresenta. O capítulo final é até dedicado ao processo de pesquisa que ela utilizou, em que ela aborda desde planejamento, amostragem, análise de dados qualitativos e análise literária, sem contar que o trabalho tbm foi publicado. Um dos trabalhos dela mais famosos é o Shame Resilience Theory: A Grounded Theory Study on Women and Shame. Mas quem sou para avaliar metodologicamente o tanto que isso é bom ou não, deixo esse debate para os pesquisadores psicólogos e assistentes sociais. Eu também tenho que pontuar que tudo o que leio de livros semelhantes a esse são levados para a psicoterapia e os insights que tenho são resultados desse conjunto. Não é de hoje que eu faço acompanhamento com psicólogo e se não fosse por isso eu não aproveitaria ao máximo o conhecimento que esses livros proporcionam. Acredito que a leitura de livros de autoconhecimento por si só não substituem o acompanhamento psicológico. É uma soma de fatores.
Ao mesmo tempo eu tbm tenho que concordar que para quem está na busca do autoconhecimento, livros bons, baseados em pesquisas confiáveis, são um ótimo ponto de partida. Acredito que muitas vezes, nessa longa jornada da vida e do processo de compreender suas emoções, pensamentos, traumas e dificuldades e aprender a lidar com eles, tudo é válido. Tudo o que possa contribuir de forma construtiva, desde uma conversa com uma amigo até mesmo a leitura de um livro meia boca, é válido. O processo de autoconhecimento é muito subjetivo e não tem manual de instrução. Mas mais uma vez eu destaco que nenhum livro, por mais excelente e inspirador que seja, vai substituir o trabalho de um bom psicólogo. E realmente, uma avaliação e categorização mais rigorosa deveria existir sim. Colocar tudo dentro de uma mesma categoria/setor é injusto com os pesquisadores e os anos e anos de trabalho desses. Eu tava pesquisando aqui Anecdotal Evidence é Evidência Anedótica - traduzido literalmente e tem o mesmo significado.
Escrevi demais amiga. Me empolguei.
BRUNA Hahah amo quando vc se empolga, saudades de discutir livros com vc! Ph.D. em psicologia ainda não, minha tese está under review! Mas logo, tomara Sim, a falta de senso crítico é um grande problema, isso ficou mais claro que nunca no último ano. Mas acho que também vale acrescentar que uma pessoa com um bom senso crítico não necessariamente tem o conhecimento do método cientifico. Infelizmente isso é uma falha das escolas, não só no Brasil mas, ao meu ver, em todos os lugares. Um exemplo que estava no Reddit outro dia, o livro When Crisis Strikes: 5 Steps to Heal Your Brain, Body and Life from Chronic Stress. Na superfície, ótimo: escrito por uma médica e uma Ph.D. em neuropsicologia, elas dizem que o livo é evidence based. Mas se vc olhar mais perto, o livro tem um foreword do Dr David Amen, famoso psiquiatra charlatão, pra quem uma das autoras trabalha. Pra uma pessoa leiga, sem conhecimento de medicina e/ou psicologia básica, sem conhecimento do método cientifico, é bem difícil saber se Amen ou as autoras fazem pesquisas legítimas ou não, na superfície elas parecem pesquisas cientificas. Isso não é um problema só dos livros de auto ajuda, "snake oils" são um problema em toda a área de saúde mental (e saúde em geral), mas acho que os livros são mais vulneráveis a isso pela falta de um processo de avaliação das publicações e pq os próprios leitores, por estarem em busca de ajuda e muitas vezes sem outro acompanhamento, são vulneráveis a acreditar em ajudas "milagrosas" que muitas vezes não contribuem pra nada (e podem resultar em hesitação em procurar outras ajudas, já que o "milagre" não funcionou) ou até fazem mal.
Concordo plenamente que um bom livro, ainda mais com acompanhamento de um psicologo, pode ser ótimo pro auto conhecimento e auto ajuda. Eu fiz estágio em uma clinica de transtornos alimentares em que uma das modalidades de tratamento era exatamente essa, os pacientes liam um livro de auto ajuda especifico ao longo da terapia. Também concordo que o auto conhecimento é um processo subjetivo, e cada um tem seu pathway. Mas eu trabalho desconstruindo crenças problemáticas, friend. Pra mim é difícil ver o valor em livros com conselhos meia boca, acho que vejo isso como potencialmente tendo um efeito similar com aquele comentário chato que a gente ouve do parente e 15 anos depois ainda tá tentando desconstruir na terapia hahaha entende o que eu quero dizer? Sem acompanhamento, alguns desses 'conselhos' podem ser ruins pq as pessoas tomam como verdade absoluta o que nem sempre é valido. Tudo isso dito, vou procurar esse livro que vc postou, esse sim parece realmente bom pelo que vc falou! Depois te conto o que achei! Beijos e obrigada pela tradução haha
PEDRO Muito aprendizado em três comentários, gostei e concordo demais. Vc como especialista nessa área tem muito mais conhecimento dos monstros e problemas dessa por enfrenta-lós todos os dias. Depois que vc ler, me conta o que achou da pesquisa dela e da metodologia, fiquei curioso. Sempre bom aprender.

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Para quem chegou até aqui, eu me chamo Pedro Sucupira e sou um professor pesquisador em formação e curioso de um tanto que você não faz ideia. Amo estudar, não é atoa que não aguentei somente fazer o doutorado e já ingressei no curso de filosofia. Sou um descobridor, apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e tudo o que envolve ciência.
Se você se interessou por esse artigo, aqui, no meu blog, você encontra mais textos meus (resenhas, contos e artigos). No Instagram você me encontra como @pedrosucupiraa. No Skoob como Pedro Sucupira, lá você pode acompanhar todos os livros que já li e tenho lido. No Lattes você consegue ver todos os artigos científicos que já publiquei.
E caso queria conversar comigo, compartilhar ideias, experiências e críticas, basta me chamar no pdrohfs@gmail.com.
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