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Longo e Claro Rio, Liz Moore.

  • Foto do escritor: Pedro Sucupira
    Pedro Sucupira
  • 16 de fev. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de ago. de 2022

Longo e Claro Rio é um daqueles livros de ficção em que você se questiona: O que aqui é fictício? Tudo o que é abordado não poderia ser mais real – um retrato verossímil da realidade. – Foi assim que eu me senti lendo esse livro do início ao fim.


Esse romance de suspense policial, escrito pela norte-americana Liz Moore, tem como tema central um dos problemas de saúde pública que mais afeta os EUA, a dependência química. A história se passa no bairro de Kensington, região periférica da maior cidade do estado da Pensilvânia, Filadélfia, uma área notadamente conhecida pelas altas taxas de dependência de opioides.


Interessante saber que Liz vive na Filadélfia a mais de 10 anos e conheceu Kensington ao entrevistar os seus residentes para o Kensington Blues, o livro de retratos do fotógrafo Jeffrey Stockbridge. Com certeza o livro é fruto desse contato da autora com a realidade dos moradores de Kensington e que por isso seja tão palpável e claro tudo o que é descrito. Somos totalmente imersos nessa realidade sombria e melancólica dos viciados e de seus familiares e amigos. Impossível ler sem se sensibilizar.


Em meio a esse cenário, temos a protagonista, a policial Michaela Fitzpatrick, que tenta encontrar a irmã, Kacey, dependente de heroína, que desaparece durante uma onda de assassinatos de mulheres jovens dependentes em Kensington.


“Mas se eu tinha vergonha da minha aparência, tinha orgulho da minha inteligência, que imaginava no meu íntimo como algo que descansava tranquilamente dentro de mim, um dragão adormecido a proteger uma riqueza que ninguém, nem mesmo Gee, podia me tirar. Uma arma que eu um dia usaria para salvar nós duas: eu e minha irmã.”

Longo e Claro Rio é um dos poucos livros de gênero policial escrito a partir da perspectiva das mulheres que tive a oportunidade de ler. Ao longo da história, de forma sutil, você percebe que todas as personagens de destaque são mulheres. Desde a protagonista a irmã, passando pela avó, a mãe, a colega de trabalho, as vítimas, as amigas, a babá e até a sra. Mahon (essa última é a vizinha que para mim é uma das melhores personagens), cada uma retratando uma faceta distinta do que é ser mulher.


A autora também fala sobre o aspecto “mãe” do “ser mulher” sem aquela romantização clichê que a sociedade prega. Os obstáculos, dificuldades e problemas de mães dependentes cujos filhos já nascem tendo crises de abstinência, a autoculpabilização e o abandona familiar que essas mães têm que lidar muitas vezes sozinhas são pontos chaves dessa trama.


Ao fim da leitura, o que fica explícito, a mensagem final, é o quanto nós humanos somos complexos. Como a própria escritora disse em uma entrevista [tradução livre] – “Certamente, como escritor, nunca é minha tarefa ou meu objetivo pintar alguém como bom ou mau,”“Neste livro ou em qualquer um dos meus outros livros, espero que todos os meus personagens sejam bons e maus [...]. Porque acho que é assim que todas as pessoas são: boas e más. ”


Esse aspecto da escrita de Moore torna a experiência da leitura mais realista e nos aproxima das personagens, nos simpatizamos com suas histórias, dificuldades, acertos e erros. Eu pude me ver representado ali. Humano e complexo.


“Num momento de clareza, Kacey certa vez me disse que o tempo para quem é viciado parece ser circular. Toda manhã traz consigo uma possibilidade de mudança, e toda noite a vergonha do fracasso. Conseguir a dose passa a ser a única tarefa. Cada dose é uma parábola, depressão-onda-depressão, e cada dia é uma séria dessas ondas; e então os dias em si se tornam mapeáveis dependendo de quanto tempo ao todo o usuário passa sentindo conforto ou sentindo dor; e depois meses...”

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Para quem chegou até aqui, eu me chamo Pedro Sucupira e sou um professor pesquisador em formação e curioso de um tanto que você não faz ideia. Amo estudar, não é atoa que não aguentei somente fazer o doutorado e já ingressei no curso de filosofia. Sou um descobridor, apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e tudo o que envolve ciência.


Se você se interessou por esse artigo, aqui, no meu blog, você encontra mais textos meus (resenhas, contos e artigos). No Instagram você me encontra como @pedrosucupiraa. No Skoob como Pedro Sucupira, lá você pode acompanhar todos os livros que já li e tenho lido. No Lattes você consegue ver todos os artigos científicos que já publiquei.

E caso queria conversar comigo, compartilhar ideias, experiências e críticas, basta me chamar no pdrohfs@gmail.com.

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