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  • Pedro Sucupira

Setembro Amarelo e Ubuntu

Atualizado: 16 de out. de 2023



Ubunto. Setembro amarelo

No mês da conscientização e prevenção ao suicídio nada mais me vem à cabeça senão Ubuntu.


Eu sou um dos milhares de brasileiros que ligou para o 188 (Centro de Valorização da Vida – CVV) em busca de ajuda em 2021.


Se encontrar em uma situação em que você não enxerga saída é o maior gatilho para buscar o suicídio como solução.


E a forma mais imediata de sair desse buraco, desse beco sem saída, é o contato humano. É a conversa com o próximo.


Para mim nada foi mais reconfortante do que poder me abrir com alguém, mas não com alguém qualquer, esse alguém demonstrava e transpirava EMPATIA por mim.


Foi isso que me ajudou. E hoje, estudando filosofia eu consigo correlacionar toda essa vivência com um dos conceitos centrais da filosofia africana, o UBUNTU.


A cosmovisão africana está centrada no conceito de UBUNTU. Nele, o indivíduo está conectado ao todo, no valor EU SOU PORQUE NÓS SOMOS.


Enquanto a filosofia ocidental, eurocêntrica, em toda sua história, valoriza o indivíduo como ser único em si mesmo, separando esse dos outros indivíduos, levando à um pensamento filosófico por demasia individualista, o pensamento filosófico africano nos chama de volta ao comunitário. Leva-nos a conectar com o todo, no sentido de que a “humanidade e o humano não se realizam senão por meio ou através dos outros seres humanos.”


No conceito Ubuntu, o indivíduo se faz humano pela pertença a uma comunidade.


Em Ubuntu, a personalidade individual é congregada com outras personalidades individuais, tornando o grupo mais forte e coeso. Assim, a diversidade amplia os horizontes existenciais e as possibilidades de ação.


Toda a existência é promovida e digna de participar da vida comum revelando como caráter prioritário a humanidade.


“No Ubuntu, a humanidade é um processo, e não um resultado. Não é, mas está sendo. O ser humano não tem humanidade, mas busca humanizar-se a cada instante de sua existência.”

Aqui temos os 4 princípios da filosofia Ubuntu:


1. Motho ke moto ka batho [idioma sesotho do Sul] (A pessoa é uma pessoa através de outras pessoas)


2. Feta Kgomo o tshware motho [idioma setswana] (Ignore a vaca e salve o homem, pois a vida é maior do que a riqueza)


3. Kgosi ke kgosi ka batho [idioma setswana] (A soberania do rei deriva e pertence a seus súditos)


4. Motho gase mpshe ga a tshewe [idioma sesotho do Norte] (Nenhum ser humano pode ser absolutamente inútil)


Nesses 4 princípios percebemos que no Ubuntu a ação moral ou ação para o bem reside na inter-relação das subjetividades, ou seja, na vida em comunidade. O grupo como um todo se suporta em busca do aperfeiçoamento moral.


O primeiro postulado, “A pessoa é uma pessoa através de outras pessoas”, fala sobre a identidade individual junto ao grupo. Nos traz a noção de pertencimento a um grupo, de que somos apenas um elemento de um grupo.


Em outras palavras, eu só consigo ser eu porque estou com outros. Eu consigo me sentir pertencendo a um lugar.


Existe coisa mais empática do que saber que você pertence a um grupo e que esse grupo se fortalece por causa da sua presença ali? E que sem você esse grupo perde a sua força e coesão?


Um dos principais sentimentos identificados em pessoas com depressão é o de não pertencimento. O sentimento de “eu sou um peso para minha família e meus amigos”.


E em uma sociedade ocidental individualista esse sentimento só tende a piorar. Estamos conectados (virtualmente), mas não presencialmente.


O Ubuntu resgata esse sentimento de pertencimento, um dos pontos chaves para superarmos a sensação de que estou sozinho e de que a minha inexistência trará alívio aos outros.


No segundo postulado, “Ignore a vaca e salve o homem, pois a vida é maior do que a riqueza, vemos a valorização da vida humana acima da riqueza. Os bens são importantes, fruto das tarefas do cotidiano elementares a vivência da comunidade, porém menos importantes que a vida humana – a finalidade por excelência.”


O quarto postulado, “Nenhum ser humano pode ser absolutamente inútil, aponta que, por mais contrárias que sejam as ações de um indivíduo frente à comunidade, há algo nessa pessoa que a torna importante.”


Aqui percebemos que a contraposição é bem-vinda, pois a maneira distinta de agir e pensar permite ao grupo refletir se as posturas adotadas conjuntamente devem permanecer ou serem mudadas.


Afinal, o aperfeiçoamento moral é um processo dinâmico e jamais se encerra.


A nossa ancestralidade africana está aí para nos mostrar como lidar com esse problema de saúde pública que tem se agravado ano após ano, o suicídio.


Valorizar nossas raízes africanas resgatando todo o conhecimento filosófico africano que foi por tantos séculos mitigado e taxado de inferior pelo homem branco europeu é uma forma de iniciarmos uma mudança estrutural no âmago da sociedade que atualmente se encontra apaticamente doente.


Esse artigo foi baseado no livro Introdução ao Pensamento Filosófico Africano do Ivan Luiz Monteiro.

Para você que chegou até aqui, eu me chamo Pedro Sucupira e sou um professor pesquisador em formação e curioso de um tanto que você não faz ideia.


Amo estudar, não é atoa que não aguentei somente fazer o doutorado e já ingressei no curso de filosofia.


Sou um descobridor, apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e tudo o que envolve ciência.


Se você se interessou por meu artigo, no meu blog (pedrosucupira.com) você encontra mais textos meus (resenhas, contos e artigos). No Instagram você me encontra como @pedrosucupiraa. Lá você pode acompanhar todos os livros que já li e tenho lido.


E caso queria conversar comigo, compartilhar ideias, experiências e críticas, basta me chamar no pdrohfs@gmail.com.

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