Só Vírgula, Maria Tereza de Queiroz Piacentini - um guia simples e completo sobre o uso da vírgula.
- Pedro Sucupira
- 25 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de mai.
Em tempos de polarização ideológica, instabilidade política e ruído generalizado nas redes sociais, há pelo menos um ponto sobre o qual nós, brasileiros, parecemos concordar: aprender português não é fácil. E quando o assunto é pontuação, o cenário se complica ainda mais, especialmente no que diz respeito a um pequeno, mas poderoso, sinal gráfico: a vírgula.
Durante boa parte da minha vida escolar, fui mais um entre tantos estudantes que sofrem calados diante das regras da nossa gramática. As lições sobre sujeito, predicado, orações subordinadas, regência, colocação pronominal e, claro, o uso da vírgula, pareciam mais enigmas do que ferramentas. Era como se o idioma que falávamos todos os dias se transformasse, nas salas de aula, em uma linguagem secreta à qual só os iniciados tinham acesso.
O curioso é que o meu verdadeiro aprendizado da língua portuguesa não veio pela via da decoreba, tampouco pelas provas escolares, mas sim pela leitura. Ler foi o que me deu, aos poucos, intimidade com a língua. Foi por meio da literatura, das crônicas, dos textos bem escritos, que passei a identificar, de forma intuitiva, padrões, musicalidades, pausas, entonações. A vírgula, que antes era um abismo de incertezas, começou a se revelar como aquilo que realmente é: um recurso de ritmo, de clareza, de sentido.
Ler me libertou do medo da gramática. E mais: ler me aproximou da minha própria língua. Comecei a ver o português não como um conjunto de regras arbitrárias, mas como um organismo vivo, rico, ambíguo e, ao mesmo tempo, belamente estruturado. Com isso, veio um novo desejo: estudar gramática não por obrigação, mas por apreciação. Voltar à base, agora com outra cabeça, com menos culpa e mais curiosidade. E foi nesse processo que me deparei com o livro Só Vírgula, da professora e escritora Maria Tereza de Queiroz Piacentini.
Só Vírgula é um pequeno grande livro. Com apenas 142 páginas, organizadas em 20 lições curtas, ele é uma prova de que é possível ensinar gramática com leveza, clareza e, sobretudo, com respeito ao leitor. Maria Tereza não escreve como quem julga, mas como quem compartilha. E isso faz toda a diferença.

O foco exclusivo no uso da vírgula permite um mergulho concentrado e sem dispersões. A autora apresenta exemplos reais, explicações objetivas e observações práticas, com linguagem acessível, sem perder a precisão técnica. Ela respeita a inteligência do leitor sem recorrer ao pedantismo, o que, convenhamos, é raro em livros de gramática.
Outro mérito está no tom acolhedor e convidativo do texto. Não há aqui aquele ar de superioridade que, tantas vezes, afasta o leitor da norma culta. Ao contrário: sente-se em cada página o desejo genuíno de ensinar com gentileza, de descomplicar sem simplificar demais.
Por que ler esse livro? Porque a vírgula é muito mais do que uma pausa, é nuance, é ambiguidade, é estilo. Uma vírgula pode mudar o sentido de uma frase, o tom de uma oração, a fluidez de uma leitura. Saber usá-la bem é dominar uma das ferramentas mais sofisticadas da linguagem escrita. E Só Vírgula é um excelente guia para isso.
Recomendo a leitura para todos: estudantes, profissionais, professores, escritores, revisores, mas, principalmente, para aqueles que, como eu, estão reencontrando o português com outros olhos. Com mais maturidade, mais generosidade consigo mesmos e menos medo de errar.
Estudar a vírgula pode parecer um detalhe, e talvez seja mesmo. Mas como todo detalhe, ele carrega em si a diferença entre o bom e o excelente, entre o obscuro e o claro, entre o ruído e a harmonia. E quando esse detalhe é tratado com tanto cuidado, como o faz Maria Tereza, vale a pena ser lido, relido e guardado na estante com carinho.
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Se você chegou até aqui, muito obrigado pela companhia. Meu nome é Pedro Sucupira, sou professor, pesquisador em formação e um curioso incansável. Amo estudar, ler e, recentemente, descobri o prazer inescapável da escrita. Sou um explorador apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e por tudo que toca os campos da ciência e da saúde.
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