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  • Pedro Sucupira

Como resolver problemas utilizando os 4 passos do Método da Dúvida de Descartes.

Atualizado: 16 de out. de 2023

Acredito que qualquer um de nós já se deparou com algum problema que nos fizesse desistir antes mesmo de avaliar o contexto, o problema em si e as possibilidades de resolução desse. E quando não desistimos, procrastinamos, postergando a solução do problema até o limite máximo.


Quando nos permitimos compartilhar nossa trajetória percebemos que os ‘grandes problemas’ são mais comuns do que imaginamos e surgem em todas as áreas de nossas vidas, profissional, pessoal, acadêmica etc. Mas o que nos difere é como lidamos com esses problemas. Paralisamos, desistimos, procrastinamos, somos corajosos e enfrentamos, buscamos ajuda ou apenas fugimos.


Uma das coisas que pessoas próximas a mim sempre elogiaram é a minha capacidade de lidar com problemas. Pode parecer prepotente, mas é isso mesmo, eu tenho uma facilidade enorme em avaliar um problema e, mentalmente, encadear ações que vão contribuir para a sua resolução. Sempre foi algo tão natural para mim que só passei a considerar como uma potente soft skill quando pessoas começaram a elogiar esse meu poder resolutivo.


Então, quando um elogia, agradecemos, mas quando vários elogiam uma determinada característica nossa, isso nos ajuda a se apropriar dela e a aceitarmos como parte essencial de quem somos. Depender da aprovação de outros para perdermos o medo de agir de acordo com o nosso natural não é a melhor forma de nos tornamos quem realmente somos, mas foram os elogios externos que me fizeram enxergar algo que sempre esteve ali e criar coragem para potencializar o uso dessa característica.


E o que tudo isso tem a ver com René Descartes? Essa minha capacidade de enxergar um problema como apenas um problema, não importa a complexidade, e racionalmente destrinchar e encadear ações para se alcançar uma resolução nunca foi algo que pensei em sistematizar e ensinar. Foi somente quando comecei a estudar filosofia e me deparei com o método da dúvida de Descartes que comecei a encontrar semelhanças entre minha forma de lidar com problemas e o famoso método cartesiano desse filósofo.


René Descartes (1596 – 1650) foi um dos filósofos mais proeminentes da Idade Moderna, considerado como o próprio pai da filosofia moderna. O principal campo de estudo de René Descartes foi a questão do conhecimento. Esse filósofo se debruçou sobre como é possível conhecer a realidade de modo que possamos encontrar a verdadeira causa dos fatos. Descartes deu início ao movimento denominado Racionalismo o qual defendia que a origem do conhecimento está na primazia da razão perante os dados fornecidos pelos sentidos (experiência). Ou seja, enquanto o Empirismo, corrente filosófica antagônica, defendia a preponderância da experiência sobre a razão, os filósofos racionalistas apontavam que a razão tinha predomínio sobre a experiência.


Descartes foi o criador do método da dúvida, ou dúvida metódica, no qual ele encadeia 4 passos para verificar se determinado conhecimento é realmente verdadeiro:


1º) “...nunca aceitar coisa alguma como verdadeira..., evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e não incluir em meus juízos nada além daquilo que se apresente tão clara e distintamente a meu espírito...” (Descartes, 2009, p. 33);

2º) “dividir cada uma das dificuldades que examinasse tantas parcelas quantas fosse possível e necessário para melhor resolvê-las” (Descartes, 2009, p. 34);

3º) “conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos; e supondo certa ordem mesmo entre aqueles que não se precedem naturalmente uns aos outros” (Descartes, 2009, p. 34);

4º) “fazer em tudo enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que eu tivesse certeza de nada omitir” (Descartes, 2009, p. 35).


Resumindo, o método da dúvida consiste em Verificação (duvidar), Análise, Sintetização e Enumeração.


Descartes criou esse método como forma de confirmar a veracidade de um conhecimento por meio exclusivamente da razão, mas foi estudando esse método que eu consegui sistematizar esse meu caráter resolutivo e expandir a ponto de conseguir transmitir para outros.


Diante disso, aqui apresento um método para resolução de problemas de acordo com os 4 passos do método da dúvida de René Descartes.


1º) Verificação (duvidar). O primeiro contato com o problema é crucial.


Aplicar o método da dúvida consiste em duvidar do problema, ou seja, verificar se realmente aquilo se configura como um problema. Uma vez que você concluir que é realmente um problema, você precisa descrevê-lo da melhor forma possível.


Como diz a famosa frase de Charles Kettering:

“Um problema bem enunciado já é meio resolvido”.

Evitar com todas as forças a precipitação e “não incluir em meus juízos nada além daquilo que me é apresentado”. Nessa etapa a ansiedade é uma terrível inimiga. Você jamais pode internalizar que um problema não é capaz de ser resolvido. Você pode não ter os meios e condições naquele momento, mas acredite todo problema é passível de resolução seja você sozinho alcançando isso ou com ajuda de outros. Isso daqui é clichê, mas muito real. A forma como você encara um problema vai influenciar diretamente na sua motivação. Você jamais vai se lançar numa empreitada em busca da solução para um problema que você já deu como irresoluto.


Uma outra palavra-chave aqui é a autorresponsabilidade. Verificar consiste em duvidar, questionar algo. Se deparar com um problema e responsabilizar outro por ele é fácil, o difícil é admitirmos que nós também podemos ser os responsáveis. Quando algo errado acontece a primeira coisa que pensamos é ‘quem foi que fez isso?’, mas será que nós nos incluímos em todo o escopo que esse ‘quem’ representa? O exercício da dúvida frente à um problema exige que duvidemos de nós mesmos a ponto de sermos capazes de admitir a nossa responsabilidade.


2º) Análise. Essa etapa consiste em separar por partes.


Pegar algo complexo e dividir em partes simples até se chegar a menor parte que possa ser entendida e resolvida. É como se você desmontasse um grande problema em problemas menores e mais fáceis de serem resolvidos. Com certeza você já ouviu a frase: ‘tem que resolver agora senão vai virar uma bola de neve’. Isso mesmo, imagine que todo problema seja uma bola de neve no auge da complexidade e para resolver você precisa desmontar essa bola de neve de tal modo que você consiga enxergar todas os pequenos problemas não resolvidos que foram sendo emaranhados ao longo do tempo enquanto essa bola rolava ladeira abaixo.


Quanto mais complexo for o problema mais divisões você terá que realizar. Por exemplo, a resolução de um problema no setor de suprimentos. Além de o problema ter que ser bem definido é preciso fazer um mapeamento de todo o processo que envolve esse setor. Desde destrinchar toda a cadeia de suprimentos de uma empresa, identificando o passo a passo de compra e entrega, até a identificação dos responsáveis por cada atividade.


E quando se trata de problemas pessoais essa separação também pode ser realizada. O exercício de se autoquestionar é um ótimo método para compreender o problema de forma panorâmica e separar por partes. Perguntas como: Por que estou nessa situação? Eu tive poder de decisão ou não? Quais decisões tomei que me fizeram chegar até aqui? Por que eu decidi isso e não aquilo? Quais os motivadores que me fizeram escolher isso e não aquilo? Quais eram as minhas opções? Tentar traçar uma linha racionalmente lógica identificando cada ponto no tempo que te conduziu para o problema presente pode te ajudar a esmiuçar o problema revelando partes mais simples de serem resolvidas.


Para mim essa fase de análise e separação é a que mais me ajuda a diminuir a ansiedade. Conseguir identificar as partes mais simples me acalma, pois a partir daí eu consigo enxergar uma luz no fim do túnel.


3º) Sintetização.


Se no segundo passo decompomos o problema em partes menores de fácil resolução, agora precisamos recompor os pontos simples até alcançar a complexidade novamente. Utilizando as partes menores resolvidas vamos reestruturando até chegar ao complexo novamente, porém a diferença é que esse problema complexo agora se apresentará resolvido. O que antes nos era obscuro, incompreensível e irresoluto quanto ao todo agora se torna compreensível e resoluto.


4º) Enumeração. Essa última etapa consiste na consolidação do conhecimento adquirido ao longo do processo.


“Quando enumeramos, fazemos uma lista do que ocorreu passo por passo, de forma sucessiva. Depois, realizamos revisões do processo, com o auxílio da enumeração, para que nenhum ponto seja deixado de lado da análise e para que o processo de síntese seja passível de compreensão. Desse modo, o que se busca é a compreensão na íntegra das partes, da conexão entre as partes e do todo” (Ferreira, 2015, p. 160).


Lidar com problemas é inerente à condição humana, o que vai determinar é a forma como lidamos com eles. Aqui eu apresentei para vocês apenas uma forma de como encarar os problemas, de toda a infinitude que é a literatura sobre esse tema, baseado na minha experiência de vida. Quando se trata de problemas todo conhecimento é bem-vindo e pode agregar para nosso amadurecimento. Espero que este artigo contribua para o seu.


Referências

Descartes, R. Discurso do Método. São Paulo: M. Fontes, 2009.

Ferreira, F. L. História da filosofia moderna: Intersaberes, 2015.


Fonte foto de capa unsplash.com


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Para quem chegou até aqui, eu me chamo Pedro Sucupira e sou um professor pesquisador em formação e curioso de um tanto que você não faz ideia. Amo estudar, não é atoa que não aguentei somente fazer o doutorado e já ingressei no curso de filosofia. Sou um descobridor, apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e tudo o que envolve ciência.


Se você se interessou por esse artigo, aqui, no meu blog, você encontra mais textos meus (resenhas, contos e artigos). No Instagram você me encontra como @pedrosucupiraa. No Skoob como Pedro Sucupira, lá você pode acompanhar todos os livros que já li e tenho lido. No Lattes você consegue ver todos os artigos científicos que já publiquei.


E caso queria conversar comigo, compartilhar ideias, experiências e críticas, basta me chamar no pdrohfs@gmail.com.

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