top of page

Histórias de Horror e Mistério — O lado sombrio e investigativo de Arthur Conan Doyle

Atualizado: 22 de mai.

Arthur Ignatius Conan Doyle é um nome que dispensa introduções. Médico de formação, escritor por vocação, é mundialmente conhecido como o criador do mais célebre detetive da literatura: Sherlock Holmes. Essa associação, por si só, já seria razão suficiente para despertar a curiosidade de qualquer leitor — afinal, não se espera pouco de um autor que construiu um dos personagens mais complexos e influentes da ficção moderna. Mas Conan Doyle é muito mais do que Holmes: ele é um estilista da narrativa, um mestre da ambientação, e um contador de histórias com domínio raro sobre ritmo, atmosfera e tensão.

Capa do livro Histórias de Horror e Mistério de Arthur Conan Doyle, edição da Editora Pé da Letra, com arte sombria e olhos vermelhos em destaque.

Em Histórias de Horror e Mistério, temos acesso a uma faceta menos celebrada, mas igualmente fascinante de sua obra. O livro reúne doze contos divididos em duas partes: seis de horror e seis de mistério. Essa organização permite ao leitor transitar entre o insólito e o enigmático, entre o macabro sutil e o raciocínio lógico, com a elegância que caracteriza a escrita de Conan Doyle.

A primeira parte é dedicada aos contos de horror — O horror nas alturas, O funil de couro, A nova catacumba, O caso de Lady Sannox, Terror na Fenda de Blue John e O gato brasileiro. São narrativas que exploram o mistério do corpo, da mente e das forças invisíveis que espreitam nos limites da razão. Embora alguns leitores contemporâneos — especialmente os acostumados ao terror visceral de autores como Stephen King ou à metafísica sombria de Lovecraft — possam considerar essas histórias “leves” para o rótulo de horror, vale lembrar que o verdadeiro terror não está necessariamente no susto, mas na sugestão, na ambiguidade e na perturbação silenciosa que se insinua nas entrelinhas.

Conan Doyle era um homem do século XIX — e seu horror é o horror vitoriano: moral, médico, simbólico. Muitas de suas histórias flertam com os limites da ciência e da superstição, da ética e da pulsão, do progresso e da decadência. O conto O funil de couro, por exemplo, é um caso notável de como a sugestão onírica pode ser mais poderosa do que qualquer monstro explícito. Já A nova catacumba mergulha nas tensões entre civilização e selvageria, ilustrando como o verdadeiro horror pode estar não em ruínas antigas, mas na natureza humana.

A segunda parte do livro traz os contos de mistério, voltados ao estilo investigativo que tornou Doyle imortal. O trem especial perdido, O caçador de besouros, O homem dos relógios, A caixa laqueada, O médico negro e O peitoral do judeu são narrativas pautadas por lógica, dedução e observação — mas sempre temperadas com reviravoltas inteligentes e críticas sociais sutis. Aqui não há espaço para o sobrenatural: os enigmas são humanos, os crimes são racionais, e a solução exige mente afiada.

Essa dualidade entre o terror subjetivo e o mistério objetivo confere ao livro um ritmo envolvente e versátil. Para quem busca contos curtos, bem construídos, e com atmosferas variadas, Histórias de Horror e Mistério é uma excelente pedida. E mais: é uma porta de entrada ideal para leitores que desejam conhecer Conan Doyle para além do universo de Sherlock Holmes.

Outro mérito incontestável da obra está na elegância da linguagem. Conan Doyle escreve com o refinamento de um autor que não subestima seu leitor. Seus contos, mesmo os mais simples, são conduzidos com uma prosa precisa, cadenciada e, por vezes, liricamente sombria. Há um prazer formal na leitura que vai além da trama — há uma estética narrativa que seduz.

É também um livro que, por sua estrutura fragmentada, agrada especialmente àqueles leitores que não possuem tempo ou paciência para narrativas mais extensas e arrastadas. Cada conto pode ser lido em uma única sentada, mas permanece na memória por muito mais tempo — o que é sempre o sinal de uma boa história.

Se você procura um livro que combine mistério e melancolia, inteligência e atmosfera, sem a necessidade de recorrer a cenas escatológicas ou truques baratos de terror, Histórias de Horror e Mistério é leitura certa. Arthur Conan Doyle mostra que, mesmo sem monstros, fantasmas ou demônios, o mais perturbador pode estar onde menos esperamos: dentro do homem, ou naquilo que ele ousa ocultar.


*******************************************************************************************

Se você chegou até aqui, muito obrigado pela companhia. Meu nome é Pedro Sucupira, sou professor, pesquisador em formação e um curioso incansável. Amo estudar, ler e, recentemente, descobri o prazer inescapável da escrita. Sou um explorador apaixonado por literatura, comportamento humano, sociedade e por tudo que toca os campos da ciência e da saúde.

Se este texto te interessou, aqui no blog você encontra outros escritos meus, entre resenhas, contos e reflexões.

No Instagram, você me encontra como @pedrosucupiraa.

No Skoob, como Pedro Sucupira, onde compartilho os livros que li, estou lendo e pretendo ler.

E no Lattes, é possível acessar minha produção acadêmica, incluindo artigos científicos, capítulos e livros publicados.

Se quiser conversar, trocar ideias, críticas, sugestões ou experiências, sinta-se à vontade para me escrever: pdrohfs@gmail.com.

Comentários


Doação

Se você aprecia os textos, reflexões e histórias que compartilho aqui, considere fazer uma doação. Seu apoio ajuda a manter este espaço vivo, independente e pulsando criatividade. Obrigado por caminhar comigo.

R$

Obrigado(a) pela sua doação!

Acompanhe nosso Blog

Obrigado!

©2021 Pedro Sucupira.

bottom of page